sábado, 27 de fevereiro de 2010

Sobre o direito da livre expressão


"Todo o indivíduo tem direito a liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão"
- Art.19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 10 de dezembro de 1948.”

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

"Dizem que toda a gente durante a sua vida,
encontra uma vez,
mas uma vez só, a felicidade:
os que a reconhecem são os venturosos."

Mário Sá Carneiro - (1890 - 1916), poeta português
em Felicidade Perdida - Do livro Obra Completa
(Editora Nova Aguilar)
"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, já que tem a forma de nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e se não ousarmos faze-lo, teremos ficado, para sempre, a margem de nós mesmos."
Fernando Pessoa

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Quem tem medo do Amor?

Outro dia fiz uma declaração de amor a uma pessoa muito querida. Na verdade, apenas coloquei em palavras o que já demonstrara através de atitudes durante os muitos anos de convivência com esta pessoa. Mas o tempo passa e as pessoas mudam e o que eu achava que ia ser recebido como um carinho, um afago, parece ter soado como um assédio. Penso que o fato se deve à grande confusão que se faz em nossa cultura entre o que é amor e o que é sexo. O que acontece é que esta confusão parece ser proposital para que o verdadeiro sentido do amor fique obscurecido. Chama-se até o ato sexual de “fazer amor”, o que é um absurdo. As duas coisas, apesar de aparecerem juntas em muitas situações não têm nada a ver necessariamente uma com a outra. Amor é um sentimento que não tem forma, não tem cheiro, não tem cor, não tem sabor. Sente-se mas não se toca, não se apalpa. Dá-se e recebe-se mas não se atribui a ele valores ou medidas exatas. Não se “faz amor”; ele acontece naturalmente surgindo não se sabe de onde ou porque e toma a dimensão que as pessoas permitem ou aceitam que aconteça. Pode se manifestar em ações mas não necessita delas para acontecer e, jamais, jamais pode ser negociado, mesmo por um prato de comida na hora da fome intensa, muito menos por uma jóia ou um vestido de grife num instante de glamour.
Em uma de suas vindas a Recife ainda como ministro, Gilberto Gil almoçava em um restaurante “natureba” de uma amiga minha, quando esta no afã de demonstrar sua admiração por ele declarou: Gil, eu te amo! Com a presença de espírito, a inteligência e a sensibilidade dos grandes poetas ele devolveu: Eu sei, eu estou “comendo” esse amor! Um claro exemplo de manifestação de amor por uma refeição mas não “trocado” por ela.
O amor é autônomo, independente e soberano. Pode surgir em qualquer lugar, a qualquer tempo ou sob qualquer circunstância sem ser necessariamente invocado ou se retirar, simplesmente desaparecer se não encontrar, como uma flor, calor umidade e fertilidade onde sua semente pousar. É um sentimento nobre, o mais nobre dos sentimentos e não pode ter seu nome invocado em vão ou confundido com qualquer outra atitude humana. Não raro porém, esta confusão se faz e se entende por amor atos efêmeros como presentear com uma flor, um bombom ou um Mercedes a alguém a quem se quer conquistar (coisas do capitalismo). O amor é bem maior que tudo isso.
Em nossa cultura existe um fato curioso: Uma noite, uma festa, um casal se conhece, se apaixona e acaba na cama. Para a mulher, o que faz o diferencial para saber se está sendo amada é o homem telefonar no dia seguinte. Já na cultura americana, a única coisa (e que parece ser a mais complicada) que a mulher cobra do parceiro, seja marido ou namorado é ouvir dele a célebre e tão vulgarizada frase: Eu te amo! E o coitado se sente tão pressionado que não consegue dizê-lo de forma nenhuma como se ao fazê-lo estivesse assinando sua sentença de morte ou prisão perpétua. Dois exemplos de aplicação indevida e interpretação errônea do termo, bem como das atitudes que demonstram amor.
Por outro lado, se alguém declarar amor a outra pessoa que não seja esposa(o), namorada(o), filho(a), pai ou mãe, será interpretado imediatamente como, no mínimo, leviano e no máximo sabe-se lá o que; tarado ou pervertido talvez. Pior ainda se o alvo da declaração for um congênere. Aí você vira gay na hora. Hummm! Esse cara aí... ...sei não!
Será que é por isso que Elton John anda dizendo (pra fúria das igrejas cristãs) que Jesus era gay? Já imagino o gajo comentando: “Vê só: O cara nunca casou ou teve filhos, andava com doze homens e a um deles chamava discípulo amado e ainda fazia par com uma prostituta, uma tal de Madalena e dizia pra amarmos uns aos outros. Tu tens alguma dúvida de que era da irmandade?”
Claro que não se trata aqui de tentar ofender os gays até porque tenho vários amigos do gênero e tenho com eles uma relação de muito respeito mas acho interessante como essa comunidade sente a necessidade de “arrastar” mais alguns membros (sem trocadilho) para a confraria. Basta um gesto qualquer, uma escorregadinha e já se ouve a sentença: Esse aí não me engana, é um enrustidinho. Sai do armário menina! Mas, como diria meu amigo José Teles: Cá targiverso.
Voltando à enorme confusão que se faz entre amor e sexo, invoco a grande sabedoria dos bruxos Rita Lee e Roberto de Carvalho quando explicam ao seu modo, as diferenças entre as duas coisas. Embora não concorde integralmente com a letra, ela dá uma boa idéia do que é uma coisa e o que é outra. E quando digo que não concordo integralmente com a letra, é quando ela diz, por exemplo, que “amor é um, sexo é dois”; (nem sempre), e: “sexo antes, amor depois” (não necessariamente e não necessariamente nessa ordem). No mais, acho uma bela canção e bastante esclarecedora. Curtam o clipe e amem, amem bastante, amem a quem quiserem amar, mesmo sem autorização de quem vocês querem amar e, como já expressei outras vezes, amor não mata (muito pelo contrário, pode salvar vidas), não tem contra-indicação, não é obscenidade e, como canja de galinha, não faz mal a ninguém.
Eu não tenho medo nenhum do amor (muito menos do sexo). E você?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Os Gigantes se ergueram!




Quando nisto iam, descobriram trinta ou quarenta moinhos de vento, que há naquele campo. Assim que D. Quixote os viu, disse para o escudeiro:
— A aventura vai encaminhando os nossos negócios melhor do que o soubemos desejar; porque, vês ali, amigo Sancho Pança, onde se descobrem trinta ou mais desaforados gigantes, com quem penso fazer batalha, e tirar-lhes a todos as vidas, e com cujos despojos começaremos a enriquecer; que esta é boa guerra, e bom serviço faz a Deus quem tira tão má raça da face da terra.
— Quais gigantes? — disse Sancho Pança.
— Aqueles que ali vês — respondeu o amo — de braços tão compridos, que alguns os têm de quase duas léguas.
— Olhe bem Vossa Mercê — disse o escudeiro — que aquilo não são gigantes, são moinhos de vento; e os que parecem braços não são senão as velas, que tocadas do vento fazem trabalhar as mós.
— Bem se vê — respondeu D. Quixote — que não andas corrente nisto das aventuras; são gigantes, são; e, se tens medo, tira-te daí, e põe-te em oração enquanto eu vou entrar com eles em fera e desigual batalha.
Dizendo isto, meteu esporas ao cavalo Rocinante, sem atender aos gritos do escudeiro, que lhe repetia serem sem dúvida alguma moinhos de vento, e não gigantes, os que ia acometer. Mas tão cego ia ele em que eram gigantes, que nem ouvia as vozes de Sancho nem reconhecia, com o estar já muito perto, o que era; antes ia dizendo a brado:
— Não fujais, covardes e vis criaturas; é um só cavaleiro o que vos investe.
Levantou-se neste comenos um pouco de vento, e começaram as velas a mover-se; vendo isto D. Quixote, disse:
— Ainda que movais mais braços do que os do gigante Briareu, heis-de mo pagar.
E dizendo isto, encomendando-se de todo o coração à sua senhora Dulcinéia, pedindo-lhe que, em tamanho transe o socorresse, bem coberto da sua rodela, com a lança em riste, arremeteu a todo o galope do Rocinante, e se aviou contra o primeiro moinho que estava diante, e dando-lhe uma lançada na vela, o vento a volveu com tanta fúria, que fez a lança em pedaços, levando desastradamente cavalo e cavaleiro, que foi rodando miseravelmente pelo campo fora.
Acudiu Sancho Pança a socorrê-lo, a todo o correr do seu asno; e quando chegou ao amo, reconheceu que não se podia menear, tal fora o trambolhão que dera com o cavalo.
— Valha-me Deus! — exclamou Sancho — Não lhe disse eu a Vossa Mercê que reparasse no que fazia, que não eram senão moinhos de vento, e que só o podia desconhecer quem dentro na cabeça tivesse outros?
— Cala a boca, amigo Sancho — respondeu D. Quixote; — as coisas da guerra são de todas as mais sujeitas a contínuas mudanças; o que eu mais creio, e deve ser verdade, é que aquele sábio Frestão, que me roubou o aposento e os livros, transformou estes gigantes em moinhos, para me falsear a glória de os vencer, tamanha é a inimizade que me tem; mas ao cabo das contas, pouco lhe hão-de valer as suas más artes contra a bondade da minha espada.
— Valha-o Deus, que o pode! — respondeu Pança.
E ajudando-o a levantar, o tornou a subir para cima do Rocinante, que estava também meio desasado.

Trecho de Dom Quixote de La Mancha de Miguel de Cervantes

FLORES, FLORES PARA LOS MUERTOS




Sempre que os fatos ganham velocidade costumo comprar um bloco de notas.
Anoto frases, idéias, intuições e deixo que se decantem com tempo. Volto a elas, depois, para rejeitá-las ou desenvolvê-las. A primeira frase quer me veio à cabeça foi a da vendedora de flores que encerra um filme. O pequeno bloco também tem idéias, por exemplo: Comparar a ditadura com o governo Lula. Uma neutralizou o Congresso pelo medo; o outro, pelo pagamento de mesada.
Ditadura e governo Lula compartilham o mesmo desprezo pela democracia reduzindo o parlamento a uma ruína moral.
Os militares prepararam sua saída de forma organizada. Nem muito devagar para não parecer provocação, nem muito rápido para não parecer que estavam com medo. Já o núcleo duro do governo Lula parece perdido, batendo cabeça, ou melhor, enterrando-a na areia, sem perceber que a polícia está chegando e, daqui a pouco alguém vai gritar da porta do Planalto: “Se entrega, Corisco”.
Quando era menino e vivíamos em Juiz de Fora, fazíamos rodas de capoeira, muito rudimentares, confesso. Mas cantávamos: “A polícia vem, que vem brava / quem não tem canoa, cai n’água”.
Tudo isso jorra aos borbotões na minha caderneta. Anotei: chama alguém do Guinness, o livro dos recordes, para saber se algum tesoureiro de qualquer partido do mundo se desloca com batedores e carros clones para iludir perseguidores...
...se algum tesoureiro partidário se desloca com jatos particulares, semanalmente; se introduz no palácio associação de empreiteiros que recebam R$1,1 bilhão de dívidas.
Os militares batiam, davam choques e insultavam na sessão de tortura, mas vi muitos dizendo que me respeitavam porque deixei um bom emprego para combatê-los com risco de vida.
Eles viam ideais no meu corpo arrasado pelo tiro e pela cadeia.
O PT queria que eu abrisse mão exatamente da minha alma, e me tornasse um deputado obediente, votando tudo que o Professor Luizinho nos mandava votar. Os militares jamais nos pediriam isso. Desde o princípio, disseram que eu era irreparável e se limitaram à tortura de rotina.
Jamais imaginei que seria grato aos torturadores por não me pedirem a alma. Não sabia que dias tão cinzentos ainda viriam pela frente.
Que seria liderado por um homem que achava que Maurício de Nassau era um deputado de Pernambuco. Logo eu, que sou admirador de um deputado pernambucano chamado Joaquim Nabuco.
Foram os anos mais duros de minha vida.
No meu caderno anoto frases e indicações das semelhanças da luta contra a ditadura e da luta contra este governo, desde que comecei a criticá-lo, com a importação de pneus usados.
As pessoas têm suas carreiras, seus empregos, suas racionalizações. É preciso respeitá-las, atravessar o deserto sem ressentimentos.
Agora, sobretudo, é preciso respeitar o sofrimento dos vencidos. Outro dia, quando me referi a um núcleo da Casa Civil como um bando de ladrões que atentavam contra a democracia, uma jovem deputada do PT estremeceu. Senti que não estava ainda preparada para essas palavras cruas. E fui percebendo pelas anotações que talvez esteja aí, para o escritor, o mais rico manancial de toda esta crise.
Como estão as pessoas do PT? Como se ajustam a essa nova realidade, que destino tomaram na vida?
Procuro não confundir, entre os que ainda defendem o governo, aqueles que são cínicos cúmplices, e os outros que apenas obedeceram a ordem sob a forma da aplicação do centralismo democrático.
Alguns defendem porque ainda não conseguiram negociar com sua própria dor. Não podem suportá-la de frente. Mas terão de fazer algum dia, porque, por mais ingênuos que sejam, já perceberam que a mãe está no telhado.
Vamos ter de encarar juntos esta realidade. A grande experiência eleitoral da esquerda latino-americana, admirada por uma Europa desiludida com Cuba e Nicarágua, a grande novidade que verteu tintas...
...atraiu sábios, produziu livros e seminários, vai acabar na delegacia como um triste caso policial de roubo de dinheiro público e suborno de parlamentares.
Só os que se arriscarem a ir até o fundo dessa abjeção, compreendê-la em todos os seus detalhes mórbidos, Têm chances de submergir e continuar o processo histórico.
Por incrível que pareça, o Brasil continua, e a vontade de mudar é mais urgente que em 2002. Por isso proponho um curto e eficaz trabaho de luto.
Anotação final: começa o espetáculo da CPI, secretárias e suas agendas, ex-mulheres e suas mágoas, arapongas, tesoureiros e seus charutos, vossa excelência para cá, vossa excelência para lá, sigilos bancários, telefônicos, emocionais.
Viu, Duda, que cenas finais melancólicas quando um mercador tenta aplicar à complexidade da política a singeleza do vendedor de sabonetes?

Texto do jornalista e deputado federal Fernando Gabeira publicado na Folha de S.Paulo em 18.06.2005. Atualíssimo e pertinente em ano de eleição. Quando for votar pense bastante pra não embarcar na empolgação nem na piedade. Ser mulher não significa necessariamente ser melhor (nem pior, claro!).

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Bárbara barbarizou!


Parabéns para Bárbara. Primeira colocada no vestibular da UFPE 2010. A família está felicíssima e os amigos orgulhosos. A escolha pelo jornalismo nos deixa ainda mais envaidecidos. Seja benvinda à comunidade!